Plano de Aula: “A Causa Secreta” – Machado de Assis

Público-alvo: Ensino Médio (preferencialmente 2º ou 3º ano)
Duração: 2 aulas de 50 minutos cada
Objetivos:

  • Compreender os elementos narrativos do conto: enredo, personagens, tempo e espaço.
  • Identificar e interpretar os aspectos psicológicos e filosóficos da narrativa.
  • Analisar o pessimismo e a ironia na obra machadiana.
  • Relacionar o conto ao contexto do Realismo brasileiro.

O conto “A Causa Secreta” de Machado de Assis está em domínio público e pode ser acessado gratuitamente. Aqui está o um breve resumo:


A Causa Secreta

Machado de Assis

Garcia estava longe de adivinhar que, ao entrar na casa de Fortunato, ia dar com um mistério. Foi por acaso que soube dela e por instinto que se lhe afeiçoou. A afeição crescia-lhe no espírito sem lhe dar cuidado. Entretanto, se não adivinhava mistério, sentia um certo ar de coisa recôndita, encoberta; mas como se tratava de uma simples casa de saúde, atribuía essa aparência ao temperamento do dono.

Fortunato era um homem de quarenta anos, forte, seco, alto, lívido, calvo. Uma certa noite, encontrando-se com Garcia, um estudante de medicina, travaram amizade e Fortunato propôs-lhe que fosse trabalhar com ele na casa de saúde. Garcia aceitou, pois desejava aprofundar-se na prática médica.

A casa de saúde era pequena, com poucos pacientes, e ali Fortunato tratava os enfermos com diligência e cuidado. No entanto, Garcia logo percebeu um detalhe perturbador: Fortunato demonstrava um prazer peculiar ao lidar com o sofrimento alheio. Era como se tirasse dele um estranho gozo.

Uma cena marcou profundamente Garcia. Certa vez, um rato foi ferido acidentalmente e, ao invés de sacrificá-lo rapidamente, Fortunato prolongou a agonia do animal, observando-o com um olhar enigmático. Garcia sentiu repulsa, mas não disse nada.

Com o tempo, Garcia também se viu envolvido num outro mistério: a esposa de Fortunato, Maria Luísa. Ela era uma mulher jovem e delicada, de olhar triste e submisso. Garcia sentia uma compaixão crescente por ela, percebendo seu sofrimento silencioso, embora nunca soubesse exatamente a causa.

O desfecho da história revela a verdadeira “causa secreta”: Fortunato não sentia prazer em curar ou ajudar, mas sim em presenciar o sofrimento alheio. Esse traço perturbador de sua personalidade manifestava-se tanto nos pacientes quanto na esposa.

Garcia compreendeu que o verdadeiro horror não estava nos atos explícitos de Fortunato, mas na sua frieza e no prazer que extraía do sofrimento humano. O conto termina com essa revelação psicológica inquietante, deixando uma reflexão sobre a natureza humana e a perversidade disfarçada sob a máscara da bondade.


Esse resumo capta a essência do conto. Caso queira o texto integral, ele pode ser encontrado em sites como Domínio Público ou Machado de Assis – Obra Completa.

1ª Aula – Introdução e leitura do conto

  1. Ativação do conhecimento prévio (10 min)
    • Perguntar aos alunos: “Vocês já ouviram falar do conto ‘A Causa Secreta’? O que acham que esse título pode significar?”
    • Apresentar uma breve introdução sobre Machado de Assis, destacando seu papel na literatura realista e sua abordagem psicológica nas narrativas.
  2. Leitura e compreensão do conto (30 min)
    • Distribuir o texto do conto (ou projetá-lo na tela).
    • Fazer a leitura compartilhada ou individual.
    • Solicitar que os alunos anotem trechos que chamem sua atenção.
  3. Discussão inicial (10 min)
    • Questionar: Quem são os personagens principais? Qual é o mistério que envolve a história?
    • Pedir que os alunos apontem momentos da narrativa que geram inquietação ou estranhamento.

2ª Aula – Análise e interpretação

  1. Análise do conto (20 min)
    • Estruturar a análise com os seguintes tópicos:
      • Enredo: Resumo dos acontecimentos principais.
      • Personagens: Perfil psicológico de Fortunato e Garcia.
      • Espaço e tempo: Onde e quando a história se passa.
      • Narrador: Ponto de vista da narração.
      • Simbolismo: O que o sofrimento do rato representa?
  2. Discussão filosófica e psicológica (15 min)
    • O conto explora o prazer na dor do outro.
    • Pergunta reflexiva: “O que faz de Fortunato um personagem tão enigmático? Ele é apenas cruel ou há algo mais complexo em sua personalidade?”
    • Relacionar a história a conceitos como sadismo e perversidade, aproximando da psicologia.
  3. Relação com o Realismo e o pessimismo machadiano (10 min)
    • Explicar como Machado de Assis desmonta a idealização romântica e apresenta um mundo cínico e ambíguo.
    • Mostrar a ironia presente no nome Fortunato.
  4. Produção de texto (atividade para casa ou sala) (5 min)
    • Propor que os alunos escrevam um pequeno ensaio ou uma resenha crítica sobre o conto, abordando o que mais os impactou na história.

Recursos didáticos:

  • Texto do conto impresso ou digitalizado.
  • Quadro, projetor ou slides com trechos importantes.

Avaliação:

  • Participação nas discussões e reflexões.
  • Produção do ensaio ou resenha crítica.
  • Análise da compreensão dos aspectos psicológicos e filosóficos da obra.